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sábado, 26 de outubro de 2013

Vinicius de Morais

A AUSENTE

Rio de Janeiro , 1954

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à ideia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranquilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...

Atenta-te

Amo porque amo, teus olhos baixos de insonia me olhavam como se fosse uma desconhecida. O clarão surgia em alguns poucos momentos e o teu sorriso de lado pouco dizia. A incerteza me dava palpitares tristes no meu coração. Sentia que aquilo não teria fim, a tristeza pernoitava em meu rosto por dias. E o porquê disso tudo não se discutia em versões poéticas de Drummond. Tuas mãos tremiam sabe se lá por que e eu teria de olhar pros teus olhos para adivinhar tuas dores, teus anseios e sabe lá mais algo. A minha voz falhava, o sorriso ardia e minhas poucas sardas que enfeitavam meu rosto transpareciam a vermelhidão da vergonha. Queria que fosse o único, entre tantos que trouxeram lagrimas aos meus olhos grandes. Mas era somente outro, que passou pela minha vida, trouxe sorrisos e aquele esquentar do coração. Cantava canções ao telefone e pedia para toda noite eu me cuidar, e eu cuidava. Cuidava sim, cuidava para que não chorasse nas noites em claro, cuidava para que meu coração se mantivesse intacto, pra que aquela dor não viesse outra vez. E pro outro dia acordar, levantar e passar o tempo olhando para tua face sedenta de cansaço e que olhava para meus olhos grandes com cuidado, analisando o que sobrou de mim.

sábado, 12 de outubro de 2013

A pedidos, primavera dos Los Hermanos


Adeus você

Eram algumas tantas horas da noite, não conseguia dormir, ouvia a música que me recomendou há dias atrás, cada acorde me lembrava teus beijos, teu sorriso aparecia entre uma pausa e outra.  Fiquei  durante horas ensaiando o que dizer, a desculpa perfeita para justificar o que fiz e o que não fiz, mas, porquê justificar algo que é tão nítido, que sempre foi? Nunca fiz questão de ser um príncipe encantado, aliás sempre fui mais para uma fera, um quasímodo, alguém sem grandes atrativos, um ser egoísta, alguém que faz o que pode não para ser o centro das atenções, a estrela principal, mas, para ser alguém, uma fagulha em meio a tanta escuridão que me consome.
Durante os poucos momentos que estive ao seu lado, verdadeiramente, pude encontrar luz onde não esperava, encontrar algo além do que via. Encontrei sabor em teus lábios, felicidade em tua pele, fortaleza em suas palavras, tudo que sempre me foi  deficiente.

                Naquelas horas em que os ponteiros pareciam não passar, a agonia tornava-se cada vez lancinante, saber que um dia o doce de seus lábios transformariam-se em féu por minha causa, por minha decrépita natureza, antes não percebida por ti. Sem joguinhos,nem meias verdades, nem o que quer que seja, estou de aqui como um palhaço saído do picadeiro, de cara limpa, peito aberto, palavras, dizendo que estais certa, estou descendo de meu pedestal como você mesma disse, realmente somos muito diferentes, mas, em toda essa diferença temos algo em comum, somos intransigentes, eu do meu jeito você do seu. Sua repulsa, seu dissabor por mim, nada mais é do que algo que sempre mostrei pra ti, sem máscara, nem farsa, uma criatura torpe e vil, escura como a noite, que conheceu um pouco de luz ao estar contigo, no abrigo do teu beijo, na morada do teu corpo, no templo do teu sorriso. 



Ass: Um amigo poeta/escritor 

Eu gosto é do aconchego

Rolo na cama e afundo na falta do teu corpo, aquela sensação de que está faltando algo na cama e de que você está deitado no lugar errado.
Pois é, o lençol tá frio sem teu corpo, e só de pensar dá dó de mim me ver nesta cama só. Olhei meu porta-retrato na cabeceira e sorri ao lembrar que tua foto tava lá, perto de mim e seu sorriso lindo, alegre, sorrindo para meus olhos abertos.
Bom tempo era aquele, no aconchego dos teus braços, dos teus lábios, dos teus castos fracos. Respirar tuas amarguras, sentir teus flancos e fazer teu sorriso clarear.
Agarrei-me a um pedaço de cheiro que havia em meu travesseiro, adentrei-me no buraco da tua falta. Lembrei do teus lábios em minha testa e do teu cafuné em fim de noite, aquele olhar despreocupado que como quem não quer nada pousa em meus olhos e retorna com um ar preocupado.
E depois sorrir e ficar lá, como dois bobos, rindo de nada. 
Olhei para a janela e a lua estava cheia, o céu escuro e a tevê desligada. Parecia até um sinal, tudo conspirava ao teu favor pra perto de mim.
Ouvi passos no corredor, rolei na cama para olhar pela a fresta da porta. Uma luz acendeu e os passos continuaram. Não abri a porta, poderia ser só alguém passeando pelo corredor...
Fechei os olhos e na minha mente parecia que essa pessoa tinha encontrado onde queria ficar. Abri a porta de supetão, já feliz com a surpresa. Olhei para os lados, e o que vi foi um fio de cabelo a passar por uma brisa morna.
Seria surreal? Fechei a porta e fui para a cama novamente, entrei no buraco do corpo dela e fiquei ali, no aconchego, dos braços imaginários.

Cícero - tempo de pipa


Não sou muito fã dele, mas esses dias ando muito sensível. Enfim quem quiser se acabar na voz doce dele, ouça com prazer.

sábado, 5 de outubro de 2013

How hard can resist

A respiração é curta, os passos são rápidos e o caminho se torna turvo. A cada pedaço de chão que vejo faz com que eu siga mais rápido para longe de tudo. Não era fácil, nada é fácil. E tudo que se combine comigo se torna ainda mais confuso de entender, compreender e se tornar fácil. O significado de tudo que eu pensava só resultava em uma coisa: no difícil. O difícil era simplesmente o que fazia a minha vida, minhas escolhas eram difíceis, meus amores eram difíceis, e tudo que correspondia em algo que eu fizesse se tornava complicado de alguma maneira. Meu passos ecoavam na estrada e o meu coração afundava ainda mais no peito, parecia que ia me prender a qualquer minuto em qualquer passo a mais que desse. Minha cabeça só pensava em uma coisa: em como tornar as coisas mais fácies pra quem complicava tanto a vida?
Na verdade eu gostava dessas escolhas, a graça vinha geralmente delas. Muitos diziam: não é porque é difícil que você não consiga alcançar o que deseja. Estavam errados, nunca quando eu escolhia o caminho difícil eu conseguia o que desejava e por mais que eu relutasse, chorasse, esperneasse eu sempre escolhia o difícil e falhava de uma forma tola. Respirei fundo, pois o ar me escapava, o sol não estava mais posto no céu, e meus olhos encharcavam-se com o sentimento de fracasso. Mais uma vez, das centenas. Mas sabia eu que no outro dia, eu estaria inteira novamente, o coração curado, a dor se esvaído e tudo mais, e eu continuaria optando pela escolha difícil, como se quisesse dar um murro em ponta de faca. Eu sabia que podia escolher o fácil, mas a esperança de que um dia eu fosse conseguir fazer dar certo, sempre me tornava alguém novo. Olhei a escuridão, fechei os olhos sentindo a mesma, e percebi que meu coração voltava a se inflar, a respiração voltando ao normal e a angustia tinha passado. O sol já iria aparecer e a esperança trazendo tudo de volta, e talvez de noite tornaria a acontecer a frustração, ou talvez, talvez por um dia não.