- Cuidado, Marquesa! Mil sábios já tentaram explicar a vida e se estreparam. - disse Visconde.
- Pois eu não me estreparei. A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais.(…) O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto. Emília riu-se. (…) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca;pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? – perguntou o Visconde.
- Depois que morre vira hipótese. É ou não é? - respondeu Emília.
Sítio do Pica-Pau amarelo: Memórias da Emília: MONTEIRO LOBATO
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